sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Relógio

Porque rodas tu relógio
Como se quisesses voltar
Numa corrida louca
Sempre ao mesmo lugar?

E porque não páras tu
Em resoluta imobilidade
Quando chega sem aviso
O fim de uma idade?

Minutos que desgastas
Em certezas de chegar
E nem um ousa sequer

Em revolta espectacular
Rodar contra o destino
Dessa vida que arrastas.

Beja, 18.11.2009

Abrigo

Por não ser fui buscar
Ao fundo do inferno
A voz de um caminho
Que me dissesse ao menos
Onde fica esse lugar.

Sábio e mago
Senhor e doutor
Fulano engenheiro
Gente de olhar vago
Que por não sentir dor
Melhor soubesse dizer
Onde fica tal lugar.

Entre caminhos tortos
Estradas de países remotos
Debaixo de chuva fria
Desertos em brasa
Alguem que me diga
Onde fica aquela casa.

Numa vaga névoa
Uma sombra sem tino
Quase quebra o silêncio
Onde se esconde tremida
A voz do viajante
Em busca do seu destino.

E ninguém no seu juízo
Com olhar mais atento
De quem nunca duvida
Poderá jurar de pé
Que atrás aquele vento
Há-de haver uma guarida.