quarta-feira, 3 de março de 2010

Atlantis

Há 12 anos atrás quando dormia na Rua Augusta em Lisboa durante uma muito falada greve de fome pela liberdade de expressão artistica nos espaços públicos, roubaram-me um caderno que continha cerca de quarenta poemas de um projecto que se chamava "Beába vai à guerra dos malmequeres aprender trovas de asfalto para cantar a Atlantis".
Sei quem o fez e nunca consegui entrar em contacto com esse senhor (?), infelizmente!
Alguns poemas aparecem em pequenos pedaços de papel perdidos entre o baú das minhas memórias. Hoje fui encontrar um escrito, se não me falha a memória, em Junho de 1996: ATLANTIS.



Sobe ao cimo do meu ser
E contempla:
A teus pés, o vale que vês,
E além, a montanha
Com seu rio de través,
Cuja beleza, tanta, tamanha,
Só comparo a teus olhos e tez.

Vem, corre Atlantis,
Apaga este fogo,
Alma incendiada
Pelas gotas do mar
Que te escorrem dos cabelos
E te deixam a pele molhada.

Vê as flores e prova o mel;
Sente o odor do seu incenso,
Pairando no Arco-íris
Estampado em teu olhar intenso.
Ouve o rufar do tambor!

segunda-feira, 1 de março de 2010

Longínqua

Ao longe o gamo salta
Manhã cedo na savana
O capim seco e alto
Desespera já

Queima o calor
Onde se esconde
O predador.

O rugido é quando a dor
Cansada da corrida
Se entrega em frenesim
Ao final da vida.

O voraz alado
Vigia o capim
Lá do azul pesado.

O pó recusa a brisa
Salpica os bichos
Quando empurrado
Pela feroz batalha.

O sangue escorre
Na pisada palha
O gamo morre.


Beja, 26.11.09