terça-feira, 8 de junho de 2010

Mondego

Água fria, translúcida e branda:
Cantas baixinho versos e melodias,
Histórias de reis, anjos e fantasias,
E ainda dizes a quem por ali anda,
Que quem te não souber ouvir,
Melhor não ande por essa banda.
E a quem te queira escutar,
De pedra em pedra, monte abaixo,
Quando danças entre rochas e urzes,
De fio vais chegando a riacho,
Com lua, sol e estrelas por luzes,
Mostras que é chegada a hora!
De só nascente te fizeste ribeira,
A todos saciaste a sede e, agora,
Na louca corrida da tua esteira,
Ora és bandido, ou então menino,
Galgas a margem, fazes asneira!
E no vale a que meteste caminho,
Entre pastos e grandes serranias,
Onde as águias fazem o ninho,
Dizem que passas agora os dias,
Como um ébrio cheio de vinho:
Inclinas um lado, tombas outro,
Galgas terras, trilhos e pontes,
Sangue na veia de jovem potro,
Bebes água de todas as fontes,
Parece que marcaste encontro.
Estás feito grande estudante,
Passas vaidoso no meio da rua,
Entras manso ou de rompante,
E ainda serves de Musa à lua.
Ao fim, cansado de tanto dançar,
Tens descanso, resta já pouco,
E tu nem sonhas abraçar o mar.
Ao cabo, nada resta daquela fonte,
Nem nada que te faça lembrar,
Onde nasceste, no cimo do monte!
Escutam-te então como ao louco,
E sabem que sonhas apenas,
Feito rio grande, quieto e rouco,
Com todas as mulheres de Atenas.



Leonel Auxiliar 08.06.2010

Sem comentários: