domingo, 13 de junho de 2010

O Velho Casarão

Pelos cantos da biblioteca,
Escorrendo de uma fresta,
Dorme o pó ao som do sol.
Junto à estante uma boneca,
Que um dia cheirou a giesta,
Parece olhar aquele lençol.

Um silêncio range a porta
E sussurra o cortinado;
O escuro brilha solitário.
O passo parece que corta
Aquele tapete desbotado.
Pesa o tempo um relicário!

Num canto mais afastado,
Junto à secretária velha,
Jaz o corpo duma poltrona.
Tem o dorso bem tapado,
Um mocho por parelha,
E uma mesinha solteirona.

Lá fora o relógio da torre,
Grita ao alto o meio-dia.
É coisa bem do seu agrado,
Por lembrar, agora que morre,
O passado em que se ouvia,
Gente em casa do Morgado.


Leonel Auxiliar, Serpa, 13.06.2010 122 anos do nascimento de F. Pessoa

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