domingo, 28 de fevereiro de 2010

Fim de tarde

Púrpura flor só
Que iluminas o ocaso
Neste resto de dia.
Não cabe no teu vaso
Toda a alegria
De te poder soprar
Em derradeiro expiro
Um pouco de vento.

Desse vento que choras
Quando ouves chegar
Prestes a luz diáfana
Acordada pelo chilreio
De um bando de pardais.
São crianças no recreio
Que cantam a azáfama
Dos voos matinais.

Que forma mais bela
Esse teu pendor altivo
Perante a certeza
De nunca mais voltar
A viver um momento
Para poder olhar
Tanta grandeza
Tanto movimento.

Anunciada calma
De pastos verdes
Promessa feita
Entre paredes
Numa cama
Onde agora jaz
Uma alma
Desfeita.

Madrugadora
Névoa
que
Se
Faz
Em
Nada
.

24.11.2009

Promessa

Poucas palavras são demais
Para dizer o que já não sinto.
E mais minto se disser ao vento
Que ainda há muito que navegar.

Cordame tendido de vendavais
Há-de parecer a quem olhar
Que aquele contentamento
Nunca houvera de acabar.

Mas quis antes o mau destino
Fazer surgir bem a meio mar
Na voz cantada de uma sereia

Com céu revolto em desatino
Num sonho de espantar
Uma promessa de lua cheia.




Beja 23.11.2009

Feiticeira

Pela bruma azul de uma manhã
Molhada rua de orvalhos
Promessa de primavera
Vi-te chegar.

Neblina de flores
Em diáfano bailado
Sereia de doce andar
Olhar de quimera
Sorriste âmbar.

Revelam-se profundezas
Silêncios agargantados
Miradas esquivas
Mar de incertezas
Coraste o mundo.

De tanto colorir
Este ar que respiro
Teu corpo exala o desejo
Que me trespassa o peito
De dar-te um beijo.

Não contente meu sonho
Levou-me em asas brandas
Viver o futuro
Que agora passou.
Suspiraste a lua.

Por fim, cansado
Quase morto
Vejo outro passado
Com outra rua
Como aquela
Onde ficaste nua.


21.11.09 Beja