sexta-feira, 21 de maio de 2010

Bairro alto

Dez mil são todas as cores,
Enfeites, brilhos, vestidos,
Sorrisos, olhares traidores,
Lágrimas, amores traídos,
Vencidos e vencedores,
Juntos, todos, diluídos.

Que ruas são estas, funestas,
Paredes meias com o riso,
Janelas entreabertas,
Negrume quase fresco,
Entre odores de narciso
Gente de sorriso grotesco?

E que vozes estas, soluçadas,
Entre choros de uma criança,
Promessas sempre quebradas,
Pela luz que nunca alcança
Nem mesmo o chão da calçada
Ou a massa de gente que dança?

Cidade que se me ajoelha,
Pela calada de muita noite,
Fora e debaixo de telha,
Onde o pio duma gaivota,
Que não tem onde se acoite,
Soa a falso mas não se nota.

Sombras esguias se finam,
Silêncio pesado, de basalto,
Vozes roucas que desafinam,
Como num ensaio para palco,
Luzes que já não iluminam,
Tudo isto é o Bairro Alto.



Leonel Auxiliar 05/2010

Prece Titânica

Éolo que sopras as copas
Do azinho, castanho e pinho,
Destino incerto por caminho:
Traz-me novas do meu destino;

E tu, Tétis em que navego,
Com Poseidon por amigo,
Olha o fardo que carrego:
Traz-me um porto de abrigo;

Ainda tu Selene, minha lua,
Cega Hipérion um instante,
Que faça de Febe musa sua
E traz-me um rio que cante;

Não te fiques Hera, tu também,
Rainha de um Olimpo qualquer,
Não me votes ao desdém
E traz-me Héstia por mulher.

Pede a Zeus, teu senhor,
Que Afrodite afaste de mim
Ou antes deixe morrer de dôr,
Quem teve uma sorte assim!


Leonel Auxiliar 05/2010